sábado, 30 de novembro de 2013

Era do Conan o esmalte de unha verde

Saiba, ó príncipe, que há muito tempo, nos anos em que os oceanos tragaram Atlântida com suas cidades cintilantes e nos anos que presenciaram a ascensão dos filhos de Aryas, houve uma era inimaginada, na qual havia uma academia de MMA. Lá estava um moleque que havia começado há pouco tempo, um franzino que jogava league of legends e que entrou para cumprir a promessa que fez pelos comentários de Facebook de ir atrás de um cara e lhe dar uma surra porque ele disse que o jogo era "um lixo e ele era uma bichona por jogar", visto que a internet é coisa séria.
Ele foi abrir seu armário para pegar sua tralha e ir embora ao final da aula, mas ele abriu o armário errado e caiu tudo o que tinha dentro dele, junto com uma garrafa de água mal tapada que, ao cair, fez a maior merda. Foi um jorro de desculpas infantiloide o que seguiu, e dentre a galera que se encontrava ao redor, ele tentava saber de quem era toda a tralha que ele acabara de zonear.
-"É do Conan" - foi a resposta.

Conan era um cimério instrutor de MMA, um profissional de educação física que só falava de suplemento e alimentação, se apalpava a cada 5 minutos, e dava em cima de todas as suas "alunas". Mas não só isso. Em vida, Conan foi de tudo o que se pode imaginar, mendigo cantor, um ladrão miserável, um mercenário, um pirata, um estagiário, até finalmente sustentar a coroa da Aquileia sobre sua fronte frondosa que assusta as invejosas com cabeças decepadas, e transtornada pela bipolaridade com a qual se autodiagnosticou porque viu uma página na internet que ele olhou por cima, e achou tudo verdade.

Conan rondava em busca de álcool e emprego o vilarejo costeiro de Avadaquedavra, um rego do mundo onde estranhamente havia muitos mercenários nas ruas, na proporção de cinco por habitante. Sua população minúscula era extorquida até o último centavo para sustentá - los. O prefeito fisiculturista com chapéu cretino dizia que toda aquela despesa era protegê - los melhor dos ataques de piratas, que somavam quase um por dia. Os piratas promoviam uma violência bárbara e sem sentido naquela região, que roubavam todo o ouro, sequestravam as mulheres, queimavam os celeiros, mijavam fora do bacio, atacavam o zoológico e incentivam a fuga dos animais para estes intensificarem a destruição e pisotearem as crianças. Tudo numa frequência absurda que logo os deixava sem praticamente nada para roubar, de tão depauperado aquele povoado, mas talvez pudessem roubar o dinheiro que o prefeito fisiculturista desviava do orçamento dos mercenários para comprar seu uísque com whey e prostitutas. Com whey. Era isso que ele mais queria proteger daqueles bandidos sanguinários do mar, e dependesse dele eles nunca descobririam.

Tudo bem que o número de pilhagens havia despencado naqueles últimos meses depois que os mercenários vieram do Oeste. Mas isso também era um problema. Conan ia ter trabalho em achar um trabalho em sua área de especialização, que era trucidar pessoas com aço, fora que mercenários entediados e alcoolizados podiam ser um problema de vez em quando.

Conan achou a pior pousada da face da terra para ficar. Era cheia de cupim e formiga, e não tinha colchão; Ele teve que dormir no azulejo mesmo. Como um cimério, ele estava acostumado a condições piores, mas a recepcionista foi grossa com ele, daí não tinha como, ele quase chorou.

Por algum motivo, havia uma porta falsa que dava para o quarto dele. Um mercenário se esgueirou pelo estreito corredor até ela com óbvias intenções. Conan parecia absorto nos próprios sonhos, mas quando ele se aproximou, em um piscar de olhos Conan pegou sua espada pronta ao seu lado e atravessou o mercenário, cujos olhos ficaram vidrados de morte e em seguida largou o punhal que carregava. Conan esparramou as vísceras dele no chão, até por vingança besta contra o péssimo atendimento do lugar; ele queria ver a cara da faxineira quando entrasse, mas a reação mais provável seria: -"de novo?!".

Depois de exterminar o mercenário, ele destruiu a porta em um golpe de espada, pois era uma porta falsa e ele odiava falsidade e rabanete, pelo menos segundo as comunidades em que ele estava. Foi então que ele chegou em um quarto com uma mulher de beleza fantástica e pernas tortas, chamada Rainha Kashassa. Conan estava agindo com raiva louca e irracional (que ele ia justificar com a bipolaridade, assim como qualquer coisa), brandindo sua espada ensanguentada para todos os lados para baixo, parecendo um esfregão e coreografia do furacão 2000.
Conan queria pra ontem uma justificativa pela tentativa de assassinato.

Kashassa disse que queria purificar aquela região, achava que ele era só mais um mercenário nojento, ou pior, um pirata. Os piratas eram odiados pela antiga dinastia de Huanacon, governada por vampiros segundo as lendas, pelos aldeões de Avadaquedavra, pelos indígenas, e até certo ponto por eles mesmos, então se tornavam emos, e em seguida eram odiados pela sociedade em geral.

Mas ela acreditava que Conan se provou digno (só matando um pelassaco dispensável e quebrando uma porta, mas quem imagina as ideias estranhas de dignidade que ela tinha), e juntos poderiam limpar os mares de piratas e restaurar Huanacon à sua antiga e tenebrosa glória, com sacrifícios humanos.
Conan achou boa a ideia disse que sim, queria participar, só que ele tinha problemas para se comunicar, então disse sim tacando uma luminária a óleo no quarto, incendiando toda a pousada, e todos os hóspedes e funcionárias morreram naquele incêndio criminoso.

No dia seguinte, o prefeito fisiculturista verificou a situação, e disse que Conan não podia ficar fazendo isso, que tinha que ser bom ateu com a família. Ele foi condenado à ficar no mesmo lugar, sentado na praça, pensando no que fez.
Mas ele fugiu logo que o prefeito idiota deu as costas! Conan não respeitava nenhuma lei e não dava a descarga!

Conan subiu no primeiro navio no estaleiro que viu. O capitão era um mestre homem - barco, que podia flutuar sobre a água e nem precisava de um barco realmente, mas ele queria ter um barco para chamar de seu "escravo"! E ele tinha medo de trovoada e palhaços. Ele era muito simpático para aquele tempo sombrio e se apresentou:

"Meu nome é Olerit, estamos indo para Cush trocar bolinhas de gude e sedas e açúcar e figurinhas da copa repetitivas e sandálias de gladiador por marfim e cobre e cobras e escravos ou talvez pérolas"

E Conan disse que ele era Conan. E disse para partir logo porque a polícia estava atrás dele. Foi uma desculpa péssima, pois além do lugarejo não ter nenhuma polícia digna de ser chamada assim, Olerit disse que não podia transportar um homem procurado, então Conan fez beicinho.

Mas então Conan pensou um pouco... tinha algo errado com aquele barco, não podiam ser mercantes de verdade... Afinal, aquela carga... Quem em sã consciência compraria bolinhas de gude e sandálias de gladiador?! Assim eles foram expostos!

"Sim" - Uma mulher fez umas acrobacias com cordas que demoraram uma hora inteira pra terminar, e quando quase todos estavam pegando no sono, ela disse: "não somos um navio mercante. Somos contrabandistas, e piratas. Meu nome é Valesca da Irmandade Negra" - disse Valesca da Irmandade Negra; a pior dançarina do mundo, mais descoordenada impossível,  rosto feio, corpo razoável, que tinha armadura expositiva com powerpoint e outras bugigangas, e um elmo de chifres nojento que parecia não ser lavado a meses.

Ela aceitou Conan como seu passageiro, na condição de manter a cabeça e os braços dentro do navio durante toda a viagem. Logo ela e Conan se tornaram mais íntimos, apesar da mania do último de tocar My Chemical Romance, e de jogar restos de comida do casal para Olerit, da janela da suíte marítima com espelho no teto.

Muitos perderam a cabeça por essa paixão, e os dois incendiaram vários barcos ao longo da Costa Muito Boa Com Coisas Legais, que apesar do nome possuía lugares como Avadakedavra. Só que eles não conseguiam roubar nada deles, pois incendiavam os barcos antes de saqueá - los, só para vê - los queimar em caos e destruição. Fora que piromania é comum em pessoas com retardo mental.

E às noites, a tripulação ficava apreensiva e tinha que aturar o rito de acasalamento de Valesca, que era muito forçado, imbecil e asanino, com direito a gritinhos agudos irritantes e choro fingido. Eles tacariam um sapato nela, mas era o emprego deles que estava em jogo...

E assim seguiu, só que Valesca e Conan romperam, sob supostas diferenças criativas, que começaram depois que Conan começou a ver uma japonesa.
Ele foi então abandonado ao longo da costa, apenas com sua espada enferrujada pela maresia para sobreviver. Alguns dias depois, o barco "mercante" foi destroçado por navegação alcoolizada e fuga de perseguidores.

Agora era só Valesca sozinha, andando pelas selvas de Zarqueba, procurando comida chinesa. Logo Conan caiu das árvores imediatamente acima dela. E ela teve orgasmos múltiplos quando o viu, dizendo: "Conan da Ciméria!" - apenas para ouvir em réplica um "Pára, porra". Agora eram dois andando pelas selvas de Zarqueba procurando comida chinesa, com a única mudança sendo a busca de Conan por frutas saudáveis de Derqueta, e um açaízinho, pois ele tinha medo de ficar frango depois de tanto tempo sem 'treino'. Quando ele perguntou como ela foi parar ali, ela explicou mal a história do naufrágio e disse que o motivo foi ter se metido com os interesses comerciais de um nobre estígio, comedor de gatos, em vários sentidos, só que apenas da palavra "comedor". Fora que ela peremptoriamente se recusou a cantar e rebolar pra ele.

Assim que deixaram o matagal para se aventurarem pelas planícies, avistando à distância uma enorme cidadela. Mas logo descobriram que seus arredores estavam cheios de furiosos dragões terrestres! Eles correram para a segurança, e Valesca arrancou das mãos de Conan uma das frutas saudáveis e atirou em um dos dragões, que explodiu em seguida. Mas Conan ficou triste com a perda daquela fruta em especial dentre 30 iguais que ele perdeu tempo coletando.

Ao entrar na cidadela, viu que ela era cheia de corredores quase que projetados para gigantes, praticamente vazia, mas já viram que lá mesmo havia problemas com gangues, mendigos, e drogas. Foi um longo caminho com o cheiro da morte à espreita até o que identificaram como a sala do trono, e lá encontraram dois líderes, Ayepec e Cancela. Foram eles que lhes deram as boas vindas a Huanacon, outrora uma gloriosa capital. Aqueles corredores guardavam várias histórias de encarniçados conflitos, e era muito evidente a decadência daquele lugar. Praticamente deserto, exceto por aqueles dois, um segurança de supermercado sempre alerta, e um filme ruim projetado na parede, 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Conan viu em Cancela a mulher mais bonita que já havia visto, mas os olhos... era estranho, era como se já tivesse visto aqueles olhos antes... Onde poderia tê - los visto? Em um rosto, pois é lá onde ficam os olhos. Isso tranquilizou a mente de Conan.

Quando Ayepec, da barba afiada, perguntou o que faziam ali, eles responderam que eram náufragos e queriam o caminho da saída, para a civilização mais próxima. Só que a única civilização próxima era a odiada Estígia...

Foi então que Cancela ofereceu uma oferta para eles: que atacassem os piratas que vagavam por ali, em troca de abrigo nesse mundo cão. Sem que ela soubesse, ela inventou todo um sistema primitivo de trabalho. Em que o método para bater ponto era colocar um esmalte de unha verde em uma estante toda vez que um odioso pirata morresse.

E aceitaram, fazer o que, não tinham nada melhor pra fazer. Só que fazia muito tempo que não aparecia um pirata por ali... talvez fossem os dragões que rondavam a região. O único que conseguiram foi Auro, um terrível bucaneiro fumante vindo de Sargos que veio ali trocar iogurte grego por espelhos para ver um mundo doentiiiii. Valesca já sabia do papo dele, que não colou. E foi assim que a cabeça dele rolou pelo convés, junto com o corpo.

Mas foi a única empolgação que conseguiu. Tudo estava andava de mau a pior. A falta de comida saída do céu era um problema, e aquele segurança por mais que recebesse nunca aparecia. Um dia Conan foi se queixar com Ayepec que tava com sono, com fome, com sede, e com frio, mas o que viu era um ritual muito louco: Valesca estava sem nenhuma roupa deitada sobre um altar sacrificial presa por tiras de couro, e Cancela erguia uma faca!

Conan agora se lembrava dela, era a antiga rainha de Huanacon, Kashassa, que agora ele achava que era Kaishadechá, ou Kaisercomchá, não se lembrava e ficou sem graça. E ela foi bem devagar e de forma ridícula até ele, agora com um sabre de luz dos sith, e ela disse: "dessa vez, não haverá entrevistas!" - "Mas da outra não teve!" - foi a resposta de Conan. E ela decidiu transformar Ayepec em um demônio, no demônio que ele sempre foi, só que sem ameixa e brigar com os filhos por causa de the sims. O sabre de luz foi uma distração barata, e não ajudou quando Ayepec se descontrolou e matou ela com suas garras e ignorância geográfica.

Ayepec também matou Valesca com o sabre de luz e depois o jogou fora: "as gerações futuras nunca precisarão disso!" - E foi nesse momento chocante que Conan descobriu que Kashassa foi um travesti durante toda a sua vida imortal, além de meio racista. Ele tinha esse incrível talento de fazer descobertas inúteis em horas inapropriadas.

E quando Ayepec ergueu as garras e deu a glória ao seu senhor, Conan achou que aquela era a hora que ele iria se encontrar com seu criador. Mas o fantasma de Valesca apareceu e cortou a mão do monstro com uma espada que não existia, e ele começou a gritar de dor. E foi a deixa para Conan atravessar o coração de trevas da fera com sua espada, que existia. Ayepec encontrou a paz final depois de sua horrível e demente transformação.

Conan agora tinha perdido tudo e estava meio triste. A primeira coisa que escutou, quando virou as costas num sobressalto foi um "oieeee" - era o duende tolo e meio vampiro que era o amante com qual Cancela, ou Kashassa, no caso, chifrava Ayepec, e não valia a pena para nenhum dos lados. Na saída, Conan o tirou de sua miséria com decapitação.

A tristeza assolava a alma do gigante cimério. Um cimério não iria chorar, mas Conan estava se debulhando, feito uma criança, pois somente os fortes choram. Ele foi embora daquele litoral cheio de más memórias com duas tartarugas amarradas por seu cabelo cimeriano e eventualmente chegou na Aquileia, a terra da qual seria rei.

Mas enquanto isso, ele teve que se contentar em arranjar logo um emprego para não morrer, e no caso foi com algo que não precisava de técnica, prática ou formação: MMA. E ensinar essa arte marcial era meio que um eufemismo para "revendedor de suplementos". Eventualmente Conan deu a volta por cima e descobriu que para suas melancolias gigantescas do passado havia gigantescos júbilos no presente.

E quando Conan viu que aquele nerd franzino zoneou suas coisas, e que ainda quebrou um vidro de esmalte verde que tinha guardado, teve que botar moral e arrebentou a fuça do guri com um soco, e disse: "Isso é por encher a linha do tempo dos outros dessas porcarias irrelevantes de league of legends".

Moral: Faça esportes ao ar livre com os amiguinhos.


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