segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Abinoã e as hordas de Citric

Tudo começou há muito tempo, quando Abinoã, o tigre que vomitava, estava saindo da farmácia onde foi para comprar Gatorade, que ele bebia que nem água, com o intuito de colorir seu vômito para ficar mais bonito.

Logo que ele estava passando pela porta e pelo detector de segurança que disparou por causa da garrafa de gatorade extra que ele "esqueceu" de pagar no caixa, apareceu um sujeito encapuzado muito estranho perto dele, cambaleando, trilhando o chão de sangue. Do seu rosto pendiam bigodes longos e loiros que Abinoã considerava gays - muito para o desgosto dos amigos progressistas de Abinoã, a medida de uma pessoa na nossa cultura muito máscula é só julgamento estético.

O misterioso estranho chegou para Abinoã e disse: "estou morrendo... por favor, fique com essa carta" - e desfaleceu tão logo acabou de falar. Abinoã foi embora dali, como se uma pessoa caída numa poça do próprio sangue não tivesse nada que ver com ele. Torturado pela curiosidade, ele abriu a carta pra ver o que tinha. Era uma folha de papel ordinária em que vinham mal-escritas as seguintes palavras: CITRIC VIVE. TREMAM MORRENDENSES. - "Que porra é essa?" - pensou Abinoã, consternado com o conteúdo sem sentido da carta que lhe foi confiada pelo vagabundo morto.

E aí Abinoã voltou para sua toca de tigre, se acomodou no sofá e tratou logo de pegar os gatorades de uva e fruta do conde e beber os dois juntos para ver de qual cor ia sair o vômito. E então ele ouviu alguém batendo à porta. Abinoã não estava acostumado a receber visitas ao seu domínio desleixado, e logo se levantou para atender a porta, avisando "já vou".

Ao abrir a porta, a respiração de Abinoã falhou ao ver um nórdico de quase dois metros, vestido com casacos de pele da avó dele, provavelmente, e amuletos de pedras vermelhas, com os bigodes idênticos ao do falecido mensageiro com o qual Abinoã topou na farmácia, os olhos que nem adagas, da cor de aço. Ele ficou um tempo parado sem fazer nada, e Abinoã estava tão nervoso que ele quase vomitou.

Abinoã o convidou para entrar, afinal. O visitante se sentou no pufe em volta da zona que era a casa de Abinoã - tudo vomitado, pratos usados no chão, e pilhas de garrafas vazias de gatorade, roupas suadas e vomitadas (Ainda que Abinoã não usasse roupas por ser um tigre; ele só tinha para sujá-las e deixá-las vomitadas). Para quebrar o gelo, Abinoã então perguntou: "Pois então... pra que time você torce?"

"Não há tempo para perder" - finalmente disse o estranho - "você tem a carta, me mostre, porra!" - a voz ribombou por toda a casa, e Abinoã fez beicinho e quase chorou. Ele mostrou a bizarra mensagem a ele. O estranho leu, e ele se esforçava para não ser sobrepujado pelo horror. Logo ele disse: "pegue tudo o que você precisa. Temos que ir embora daqui o quanto antes... nada mais é seguro para quem recebeu a mensagem."

"Ô, como assim? Você tá me expulsando da minha própria casa? Tá maluco? E o que me garante que você não vai voltar aqui e..." - Abinoã não teve a oportunidade de terminar de falar, antes de ter uma espada apontada para sua garganta. O rosto do visitante se contorceu em um rosnado, e o suor frio escorria pela testa de Abinoã, que se resignou a obedecer para não virar um daqueles casacos de pele de avó; "Tudo bem, tudo bem, já pego!"

Abinoã juntou uma mochila com uma meia sem par, uma camiseta suada com cheiro de rato morto e dois gatorades, sendo que um já estava meio bebido.
Os dois partiram a pé para o distrito industrial da cidade, até chegarem no que seria um aterro. "Aqui parece um ótimo lugar para montar acampamento" - disse o ainda misterioso estranho, com seu senso arbitrário de boa localização. Era lá que passariam a noite, e Abinoã torcia para não serem atacados por indigentes.

Abinoã estava bastante desconfortável, e se manifestou a respeito: "cara, você nem me disse o seu nome"

"Meu nome é Frithamund" - disse Frithamund - "E aparentemente você não tem ideia da gravidade da situação que aquela carta comunica..."

"Não mesmo... era pra eu ter? O que que era aquilo, afinal?"

"Citric está voltando. Ele é o rei cruel de uma feroz raça de bárbaros, os vicegodos, os mais ou menos godos, os em cima do muro que não queriam ficar do lado nem dos visigodos nem dos ostrogodos - sempre que haviam discussões entre os dois grupos eles diziam: "calma, gente, deixem disso, afinal não somos todos godos? O importante é sermos godos com muito orgulho, com muito amor!". Ninguém nunca levou eles a sério, então Citric ficou com raiva e recalque no coração; eles são os renegados da História, que vão por sua vez sacudir as bases com AK-47s incivilizadas! A cada não sei quantos anos, só sei que não é no mesmo ano das olimpíadas,  ele volta em uma nova forma para ser o flagelo da humanidade!
O retorno desse bárbaro perverso é anunciado por terríveis sinais como desastres, ataques terroristas, crise econômica, é... hm... é, nada que não esteja sempre acontecendo. Aí fica difícil prever, sabe...

Ele voltará com hordas e mais hordas de bárbaros assassinos, e os campos serão afogados com sangue! As riquezas do mundo serão saqueadas enquanto as cabeças de recém-nascidos são enfiadas em lanças, e os homens e mulheres degolados em massa e jogados em valas! Ele não vai poupar igrejas nem hospitais! Os bárbaros não irão parar por nada e..."

"Mas você também não é um bárbaro? Pelo menos aparece um. Quem é você nessa história toda? Nem explicou..."

"Ah, bom... é... então... eu tô do lado do bem! Isso que importa! Nos ciclos em que Citric volta, as forças boas se unem para enfrentá-lo nos Campos Cataláunicos, como sempre."

"Campos Cataláunicos?"

"Sim, você é surdo por acaso? Eles são... mais ou menos... por aqui... serão nessas planícies em que as legiões serão cobertas com os véus da guerra! Aqui irá soar o clangor do choque entre espetos de churrasco customizados - ah, como é gay essa palavra - onde os cascos dos cavalos atropelarão os incontáveis mortos e no meio desse caos, o pessoal vai ficar espirrando champanhe um no outro! Vai ter rinha de lagosta e um bufê só com passas! E aí chega a parte em que potes de Nutella são enfiados um atrás do outro no cu das pessoas que são chegadas nisso, como o beto richa certamente, e eles estouram dentro do reto, pelo vácuo criado! Todos morrem de hemorragia interna!"

"Eita... sei não hein se eu continuo por aqui."

"Você deve... Abinoã" - como ele sabe meu nome? - pensou Abinoã - não lembro de ter dito pra ele... - "Porque você é o Escolhido! E também porque as forças do Bem somos nós dois, contra um mar de guerreiros inimigos, já que o outro cara lá morreu pra te entregar a carta... - Frithamund logo viu Abinoã de costas, indo embora - "Espera! Não é desvantagem numérica! É simbólico!"
- Abinoã não fez o menor caso, e Frithamund gritou: "O mundo inteiro como você conhece vai ser destruído! Você não vai fazer nada?"

Abinoã então parou sua fuga, e sentiu um enorme aperto no peito. Ele sabia que deveria ter levado uma maracugina também com aqueles gatorades... vítima de uma fatalidade, a vida de Abinoã parecia agora roubada para que ele fosse obrigado pelo Destino a fazer frente a uma ameaça cósmica. Ele nem sabia ao menos se estava preparado, e a ideia dele ser o Escolhido para deter a calamidade e não conseguir dar conta o deixava paralisado de horror. Voltando a Frithamund, Abinoã perdeu toda compostura e chorou convulsivamente.

Na tribo de Frithamund acreditavam que sentimentos eram coisa de viado, e então ele ficou impassivo. Antes de Abinoã acalmar e acabar de chorar, Frithamund jogou uma espada reserva que tinha para ele. "Eu irei mostrar para você como se faz". E assim a lição de Frithamund começou, e passou para Abinoã o que era importante sobre manter a guarda, decepar membros e cabeças, cortar tendão e osso. Logo não haveria um adeus que Abinoã não fosse capaz de dar.

Nos intervalos das aulas de esgrima das quais Abinoã precisava pro dia seguinte, Frithamund passava exercícios calistênicos que ele inventou na hora. Inclusive jogava umas pedras em cima do bucho de Abinoã para endurecer seu abdômen - mas isso só fazia Abinoã cuspir um jato de sangue. Frithamund também relevou a ele que um ovo de pata todo dia pela manhã era o segredo da sua enorme imbecilidade.

No final do dia, os músculos de Abinoã estavam... doídos. Frithamund viu que ele já tinha sofrido o bastante e suspendeu o treinamento. Abinoã viu que tinha aprendido muito com o mentor, ou pelo menos achava. Não sabia no entanto se deveria confiar nele, afinal era um bárbaro fedegoso, junto com ele contra muitos outros bárbaros. Não eram todos da mesma essência, nos portões da civilização, movidos pelo ódio de tudo que fosse parecido com nossa cultura, uma arrogância diante da civilização que eles parasitam?

E lá foi Abinoã perguntar para Frithamund no que, exatamente, ele era diferente de Citric. O bárbaro se ofendeu com a pergunta e deu um tabefe com as costas da mão em Abinoã tão forte que o derrubou - na real, não era tão difícil assim.

"Como você me fala um absurdo desses, tigre cretino? Você é burro por acaso? Já não disse que eu sou o bom e Citric é o malvado? Não ficou claro o bastante?"

"Mas é que... é que... vocês dois... são bárbaros..."

Frithamund bufou. "Então eu é que sou o bárbaro? Eu que conheço como você o limite de matar e não matar, que diferencio certo do errado que nem você? E ainda, que tenho sentimen... opa, opa, quer dizer, é, hm... ah que se foda... que tenho sentimentos que nem você?"

"Mas então, até dá pra entender, mas os bárbaros... eles usam peles, têm bigodes gays, capacetes chifrudos, e além disso comem enquanto cagam, bebem até vomitar, e são violentos, violentíssimos violentos sem parar. Só falam, numa língua que não dá pra entender porra nenhuma; dá pra acreditar mais que você está do lado do bem porque a gente entende o que você ouve, parece até... civilizado... mas então é só sobre morte e de sangue, além de crendices e a religião de vocês, a que for. Você já esteve alguma vez sem essa espada? O que mais você e Citric fazem além de guerra? Quando vocês param para assistir séries e ir pro teatro? - isso é o que gente civilizada faz. Com vocês bárbaros provavelmente não ia ter isso e ia virar tudo um put..."

"Então, escuta você, Abinoã. Quais séries você tem acompanhado? Viu House of Cards? Até que episódio? Como não chegou no final da segunda temporada? Qual foi a última vez que você foi pro teatro? Quantos livros você leu esse ano? Sabe o hino nacional de cor?

É, foi o que eu pensei... isso faz de você um bárbaro? Talvez não, porque filho de civilizado bárbarozinho não é. e talvez seja essa a única garantia que você ganha. Eu também não tenho toda a 'cultura' desses tópicos que eu falei antes, e então civilizado não posso ser, ãh? Acho que a cor do cabelo, da pele e dos olhos também não deixa, ãh? Bem justo, e vai ser essa a última linha de defesa de gente idiota, porque faz tão pouco sentido que não dá pra ter discussão, é "a verdade pronta" pra falar na cara do outro. Tem gente então que simplesmente "nasce" como você ou como eu, mais confortável ou menos, e se penduram como podem à ideia pronta do que são, e parece que é uma coisa que se perde - é você ou eu, na tua cabeça."

"Por que os civilizados não vêm até aqui? Por que tem só a gente aqui?"

"Eles simplesmente não vêm, Abinoã. E não acho justo cobrar isso deles, da mesma forma que não dá pra dizer que os teus "bárbaros" não estão vindo todos contra nós. Você acha ainda que essas duas categorias fazem sentido pra dar as respostas que você precisa?"

 "Sei não hein, hehe, isso tá me parecendo conversa de vicegodo bundão em cima do mu-AI!!" - Frithamund deu com as costas da outra mão direto na cara de Abinoã, pros vergões ficarem simétricos.

Sob uma noite de lua cheia estavam os dois acampados. Frithamund tirou o escudo das costas, o escudo do guerreiro, que ia sempre na frente de sua espada embainhada, pousou-o no chão e removeu cuidadosamente as camisinhas que haviam no interior. Com uma pedra "mágica" ele acendeu uns carvões sob o escudo; quando ele já estava pelando de quente, ele colocou um pedaço de bacon que carregava no bolso dos calções folgados, amarrados com uma corda à cintura - e Abinoã ficou aliviado de saber que aquela mancha ali era só de gordura. Frithamund colocou o bacon em cima do escudo pra assar, e aquela ia ser a janta dos dois.

Depois que terminaram de comer, Frithamund se aproximou de Abinoã, junto ao fogo do escudo, e disse: "E agora, fazemos amor."

"Ô, ô, ô! Como assim? Você acha que é assim, é? Bom, você tá com a ideia errada, não tô... é... jogando nesse time. E ainda por cima, só tem umas poucas horas que eu conheço você, e... eu tô com dor de cabeça"

"Ah, Abinoã qual é... não penso em outra coisa desde que eu te conheci... estou ardendo de desejo por você!"

"Ora..." - Abinoã não pôde resistir, naquele momento mágico, o fogo ardendo ao lado das chamas da paixão, em que os dois se consumiram. E você pode sentir o amor hoje à noite?
Ao amanhecer, Frithamund confidenciou a Abinoã que uma gozada na noite anterior ajudava a se concentrar na batalha vindoura.

E naqueles Campos Cataláunicos, a terra parecia que ia ceder sob os cascos e os pés da imensa horda invasora, que se extendia por todos os lados; o clangor das armas contra os capacetes e escudos, os olhares injetados de sangue, cheios de ódio e estupro, os gritos e os cantos de guerra, cadenciados pela marcha pareciam a respiração de um enorme monstro formado por aquela massa humana.
Em qualquer lugar em meio aos brutos e os assassinos estava o infame Citric, enviado do demônio, montando um corcel negro, que não tinha culpa de ser negro, com cabeças decepadas amarradas à cauda, ansioso para devastar tudo que via pela frente, para trazer ao mundo apenas morte e destruição.

Abinoã e Frithamund pegaram em armas, para talvez um último grande enfrentamento, sabendo que se caíssem, seria pela vida e pela humanidade, mas as forças do Bem haviam de ser vencedoras naquele dia, porque o destino do mundo estava nas mãos daqueles dois.

Abinoã e Frithamund se atiraram contra as hordas e enorme foi a sanguinolência. Eles cagaram o sangue do infame inimigo, e cagaram sangue eles mesmos porque o bacon da noite anterior ainda tava meio cru. Ninguém estava a salvo, cada um que enxergavam era posto à morte com suas lâminas cruéis. Os berros de dor iam deixar todos surdos, junto com o choque de lâmina contra lâmina, contra os escudos e armaduras, os cavalos colidiam uns contra os outros; o chão já era um mar de morte em que os caídos se afogavam.

Abinoã trucidava dezenas ao seu redor, ele jurou que todos iriam sucumbir diante da Espada Selvagem de Abinoã! Mas ele estava um pouco decepcionado; no fim das contas era só bater com a arma no crânio do outro até afundar - com o treinamento que recebeu, ele achava pouco elaborado.
De qualquer forma, Abinoã havia desperto o tigre nele, e quanto mais ele decapitava e desmembrava a escória que compunha a horda, mais ele queria matar; nada parecia o bastante.
A última coisa que o inimigo via era o olhar alucinado de Abinoã, além da boca empastada de sangue, e a espada que balançava em todas as direções, cortando cabeças e membros de montão.

Frithamund, que parecia viver apenas para guerra, já tinha matado bem mais; achava Abinoã ainda um amador. Feroz era a luta que opunha, mas tragicamente, Frithamund teve um derrame no meio da batalha e morreu - o colesterol dele tava super alto, a dieta dele era só o bacon, que era a única coisa que ele sabia cozinhar.

Abinoã viu Frithamund caindo e gritou "Nããão!" - e agora Abinoã estava meio enfurecido, meio desesperado, enfrentando agora sozinho a horda inteira. Sempre matando mais e mais, Abinoã fez seu caminho entre a horda, e teve de repente a orelha arrancada com uma machadada, e agora só podia concentrar em berrar que nem uma criança. Era Citric, a cavalo! Ele ergueu o machado para pôr fim a Abinoã! E em meio à agonia desumana que suportava, Abinoã enlouqueceu completamente e mordeu a jugular da montaria de Citric! Sangue jorrou como se fosse parte de um parque aquático de sangue, e Citric foi ao chão com o cavalo morto.

Abinoã pegou uma espada qualquer do chão, enferrujada e meio torta, foi até Citric e gritou: "Isso é pelo Frithamund!" e fincou Citric à terra com a lâmina. O rei dos vicegodos gritou, com o sangue borbulhando na boca, e finalmente morreu. Mas ao contrário da grande tradição dos filmes do Star Wars e Senhor dos Anéis, isso não resolveu todos os problemas, tinha todo o resto da horda ainda. E deu um trabalho da porra se livrar de todos eles. Mas assim pelo menos Abinoã malhou os glúteos.

Epílogo: Abinoã no fim tinha ficado meio decepcionado com Frithamund. Achava que ele era um "bárbaro", mas ele ao invés de ser bruto e barbarizar, só ficava viajando. Meses depois, Abinoã descobriu que estava grávido dele, sem dúvida daquela noite intensa, porque Abinoã não tinha nenhuma experiência sexual digna de nota além daquela. Aí ele ficou muito confuso; a vida toda ele pensou que ele era um tigre macho! Mas se bem que "Abinoã" é um nome unissex...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Abinoã Galanteador

Tudo começou há muito tempo, quando Abinoã, o tigre que vomitava, na sua vida tipicamente à toa, decidiu ir atrás de uma guria que lhe excitava sobremaneira sua curiosidade, entre outras coisas.

O que mais lhe excitava nela era o fato de que ela estava envolvida na fabricação de fraldinhas, de pequenas fraldas de todos os tamanhos - embora pequenas demais pra bebês e grandes demais para rouxinóis e hamsters. Ela passou a ter uma produção individual, tudo bem caseiro, artesanal. Abinoã realmente tinha uma tara por livre iniciativa, empreendorismo lhe deixava louco de tesão.

E foi por isso que ele passou a conversar com ela no Orkut, para onde todos migraram depois da inevitável irrelevância do Facebook.

Ela tinha vários admiradores de seus dotes físicos naquela rede, e Abinoã também olhava as fotos para sodomizar sua imaginação. Olhando nos comentários, porém, algo despertou nele uma fúria bestial! Ele quase arremessou pra longe o computador! (porque pra ele tudo se resumia a ir na loja e comprar outro, bicho escroto)

"Ela é minha" - constava no comentário das 2:38 da manhã, de autoria de Percival. Ele era exatamente o que ele pensava dele mesmo, ou seja, um filho da puta fodido!
Percival passava a noite inteira se masturbando e falando com os the sims, aquele lá de tiro, e sua vida não tinha grandes acontecimentos até que veio uma solicitação de amizade da parte de Abinoã, que ainda vinha com scrap, o que era muita civilidade da parte de Abinoã: "kra, se vc falar de novo com a mina daquele jeito vc vai morre, seu otário corno fdp"

Percival foi tomado de sobressalto com aquela hostilidade comunicada, e não tardou em ripostar à altura: "otário é vc seu viadinho, vc ké apanha seu merda?"

Abinoã riu daquela ameaça, e respondeu em termos corteses, dizendo que ele iria cortar os membros dele tão devagar que ele iria implorar pra morrer logo.

E foram dias sem fim de uma violenta guerra visual e textual, de um mandando comunidades ofendendo a banda que o outro gostava; às vezes um deles até gostava da banda que estava xingando, mas aquilo era guerra, a guerra que corrompe o coração dos homens.

Certa vez Abinoã mandou uma foto, a primeira foto que ele mandou pra ele - sinal de que estavam trocando intimidades e o que tinham de bonito.
Era ele sem camisa esticando um cinto como se fosse um chaco chinês ou uma bandana - e a legenda era de que se ele não terminasse seus contatos com a guria, isso iria acontecer a ele.

"Isso o quê?" - foi a resposta de Percival. E Abinoã não sabia responder, o que só agravou seu ódio contra o suposto pretendente de sua amada.

E então Abinoã marcou deles se encontrarem para resolverem isso nos punhos. Percival perguntou se ele demorou demais pra propor isso porque era uma bichona.

Os dentes de Abinoã cerravam sem parar uns contra os outros, e o mero pensamento naquele Percival fazia seu sangue ferver em ódio.

Abinoã se dispôs a dar uma surra nele, mas de fato ele não estava acostumado a bater nas pessoas. É claro que nas redes ele era o fodão, mas na vida real ele era tímido e se deixava empurrar e encoxar no ônibus.

Ele precisava defender sua amada, que de tão atraente ele não sabia quantos quilos de carne ia precisar comer pra conseguir encher de porrada os cretinos que tentavam se engraçar com ela.
O que importava é que ele precisava agir logo e iria começar um regime unica e tão somente a base de carne. Pouco importava se o pai dele morreu por causa disso. Para Abinoã, só de comer carne ele ia criar músculos que ele precisava para ficar fortão e bater nos outros; era uma concepção que ele mantinha inalterada desde os 5 anos.

E ele gastou todas as suas economias indo em churrascarias todo santo dia, porque ele era folgado e incompetente demais pra cozinhar. Bem que ele comprava uns bifes, e no café da manhã ele batia no liquidificador e bebia.

Dias e mais dias fazendo isso ao som de eye of the tiger, Abinoã, além de hipertenso, estava pronto para enfrentar Percival. O dia fatídico chegou, e Abinoã ia precisar de todas as suas forças!
E então ele foi na churrascaria para mais um rodízio, que poderia ser o último, e então ele mandou pra dentro mais costela, picanha, maminha, cupim, e coraçãozinho, enquanto que os funcionários do lugar o observavam incomodados, porque ele não parava de chamar por eles e pelo que o dono do estabelecimento disse, ele já estava dando prejuízo. E assim Abinoã foi convidado a se retirar do estabelecimento.

Os dois oponentes tinham marcado de se enfrentarem em um lugar público, e para lá Abinoã foi, e todos que cruzavam com ele mudavam de calçada ao verem sua cara de raiva ensandecida e ouvirem sua respiração que parecia um chiado agudo. Foi uma caminhada de 15 minutos e Abinoã estava ensopado de suor.

E foram mais 15 minutos que Abinoã esperou, e grande foi a decepção, porque Percival não veio!
Ele mal conseguia acreditar; como ele poderia não respeitar o que disse na Internet? O que existe de mais sagrado do que as mensagens de texto do bate - papo completamente ignorado do Orkut, para não se respeitar?

E Abinoã não sabia dizer se venceu, porque não realizou justiça nenhuma contra Percival, o inimigo que estava lá na Internet,  com aquela selfie de um espelho que refletia a parede rachada, daquele sorriso malicioso e nada espontâneo que nunca mudava, em nenhum instante!

Foi por esse motivo e por outros que Abinoã decidiu que tinha que bater ainda em alguém. Ele abordou um passante aleatório com gestos amplos e ameaçadores, com braços estendidos, convidando para o mútuo massacre.
O sujeito primeiro achou estranho, mas a insistência de Abinoã terminou por irritá - lo, e ele finalmente decidiu partir pro braço!

Ele afundou o punho na pança inchada de Abinoã e pá! Foram pedaços de carne mal - mastigada e vômito para todos os lados!

O atacante foi coberto de vômito, e ficou de cara! Era a camisa favorita dele! Ele até ia bater mais em Abinoã por conta disso, mas não queria se sujar mais ainda.

Abinoã caiu de joelhos à terra, vomitando sem parar, enquanto olhava com ódio, com a cara terrível de uma vaca zangada para o seu oponente, que lhe deu as costas e foi embora.

Uma pequena multidão curiosa se reuniu em sem - círculo para ver Abinoã em meio de um oceano de gorfo, e ele continuou a vomitar até perder os sentidos, de exaustão causada por vomitar demais.

Epílogo: Percival parecia ter largado de importunar a guria, impressão ou não, e Abinoã criou coragem para seguir cortejando sua amada. Ele falou com ela de curiosidades que ele viu por aí, tipo que mulheres menstruadas sentem mais tesão quando o cara mete nelas, e ele perguntou se ela não queria experimentar. E aí ela excluiu Abinoã em todos os âmbitos da vida e nunca mais falou com ele.