segunda-feira, 17 de setembro de 2012

As Aventuras de Rolinda!

Tudo começou, há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, na vida pacata de Rolinda. Ela era designer de moda, e, em seu tempo livre, treinava muito para os Jogos Lariquentos, competições onde todos lutavam a morte, até que houvesse apenas um de pé; seu sonho era vencer neles, para ganhar o prêmio que todos cobiçavam mais do qualquer outra coisa: ser devorada por ratazanas. Quem perdesse, além de morrer, só pra piorar, ganhava um cd autografado do Ventania. Infelizmente, sua vida estava muito tumultuada, pois tinha acabado de se separar, e tinha um filho de 5 anos pra cuidar. Certo dia, ela ficou de cuidar do moleque. Lá estava ele em seu quarto, todo faceiro brincando com um brinquedo dos animais da fazenda, daqueles eletrônicos com vozes gravadas, e a gravação só dizia algo do tipo: "Viva as crianças!" - "Aquele patife nem pra comprar um presente decente pro aniversário dele, passou no camelódromo no último minuto e comprou a primeira joça que viu..." Era muito pouco tempo para superar aquela experiência, mas por ora se alegrava em ver o guri bem, o guri feliz, saudável, se divertindo. Enquanto ela cuidava do que tinha pra fazer, escutava a gravação do brinquedo. O guri insistentemente apertava o botão, e o brinquedo ia: "Viva! Viva/ as crianças! Viva/ as crianças! Viva/ as presentes! Aleluia! Aleluia! Viva! Viva!" Enquanto ela adiantava os projetos, enquanto tentava ler, enquanto tomava o banho, enquanto escovava os dentes... Ia pedir por favor, ia conversar com ele, ia insistir, ia bater o pé, ia elevar a voz, ia descer a mão nele! Até que uma hora, aquele troço parou. Ela agradeceu a todas as estrelas, pois agora ia conseguir dormir em paz. Estava quase pegando no sono, quando, de repente, ouviu o rangido da porta. Passos. Grogue do sono, ela tentou ficar alerta o mais rápido que pôde; quando viu, estava o moleque, mexendo nas suas gavetas, e, em suas mãos: pilhas!!! Ela arrancou da mão dele as pilhas sem a menor cerimônia. "Não! Chega! Vai dormir! Vai dormir que amanhã você tem escola!" Ela meteu as pilhas de volta na gaveta, trancou ela e engoliu as chaves. Tudo na frente dele. O guri estava com a cara da desolação, mas já tinha acabado a paciência dela. Enxotou ele de volta pro seu quarto e se deitou de novo. 3:00 da madrugada, ela já estava no décimo sono, quando ela acorda de súbito. Ela jurava que tinha escutado aquela voz da gravação de novo. Depois ela teve certeza. "Viva/ as crianças!". Parecia até mais alto do que antes. Sem a menor paciência, pisando forte pelo corredor com toda a raiva que tinha, se segurando pra não chegar lá e estrangular o guri, ela abre a porta dele com um baque e se segura na frente dela. Ele tira os olhos do brinquedo e olha pra ela. Ao que seus olhos podiam ver, o guri construiu um mini - reator nuclear, movido a urânio, para compensar a falta de pilhas. Ela sabia que uma hora ou outra ela ia se arrepender de ter dado de presente pra ele aquele Kit do Pequeno Físico! O silêncio enchia o ar de tensão... até que... "Vivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriançavivaacriança!!!" - "Caralho..." Assim não ia dar mais. Depois de pegar ele na escola, ela combinou com ele de dormir na casa do vizinho. Ele aceitou de boa. Tratou com os vizinhos, eles foram bem solícitos. Tinham um filho que tava na escola com ele, na mesma série, com quase a mesma idade, 17 anos. "Eles podem ficar amigos e tal" - ela usou isso como argumento de persuasão. Se sentiu aliviada depois que desovou o moleque na casa deles para aturarem. O pensamento parecia cruel sim, mas se antes ela suspeitava que ele era um pentelho da porra, agora ela tinha certeza. Suspeitava até que foi ELE o motivo da separação. Sempre ele estava lá, a postos, pra interromper o bem - bom do casal, tudo para se tornar o Homem dos Lobos, enquanto transforma sua cama numa gamela de banheiro de bar. Chegou com toda a satisfação, finalmente poderia fazer suas coisas em paz. Entretanto, ela ouviu "Viva! Viva!". Começando a perder a calma, entrou no quarto do guri pra ver, e ele tinha deixado o brinquedo lá!!! E o botão pra tocar a gravação estava emperrado, o que significava que ela teria que ouvir as frases incoerentes que quela merda soltava interminavelmente POR TODA A ETERNIDADE! Naquela hora, seu olho esquerdo começou a piscar involuntariamente. Tentou ignorar aquilo, ela ainda tinha um mundo de coisas pra fazer aquele dia... No final da tarde, ela ligou pra casa dos vizinhos pra falar com o guri, perguntou pra ele se estava tudo bem, e se ele queria que a mamãe trouxesse o brinquedo que ele gostava tanto. Ele então disse algo do tipo "Ah, não, mãe... eu enjoei dele já...". Desligando o telefone, ela deitou a cabeça na escrivaninha e começou a chorar, com o "Viva/ as crianças!" ao fundo. No dia seguinte, foi até a casa dos vizinhos, com os olhos cavados, carregando aquela monstruosidade que não parava de repetir naquela voz metálica "Viva/ as crianças! Aleluia! Aleluia! Viva/ as presentes!" Foi recebida na porta da garagem pelo pai. Ele não parecia muito bem, estava agindo estranho. - "Que que você quer?!" Rolinda ofereceu o brinquedo, para entregar pro seu filho, ou pro filho deles, enfim, que fizessem o que bem entendessem com ele, mas que ele levassem embora! Ela implorava, quase às lágrimas. - "Não quero esta porra! ... acho ela irritante." Ela insistiu que o filho dela queria. - "Seu filho?" A esposa entrou na garagem, trazendo o filho de Rolinda, com cara de desamparado, segurando uma faca na garganta dele. "Se você quiser seu filho de volta, você vai depositar vinte mil nessa conta aqui até o final do dia!" - ele entregou um post - it com o número da conta. Rolinda ficou completamente desconcertada. - "M - mas por que vocês estão fazendo isso? Vocês enlouqueceram?!" - "Sim! Nós enlouquecemos sim! Eu suspeito que enlouquecemos depois que minha esposa inventou de fazer bolos com aquela farinha sem marca que a nossa empregada deixou na dispensa! A gente tentou falar com ela esses tempos, mas ela não atende e nunca mais voltou aqui! Não depois que o delegado apareceu por aqui fazendo umas perguntas estranhas!" E então ela foi embora de lá, lágrimas brotando da face. Começou a andar sem rumo. Não queria saber de mais nada. Uma hora, ela voltou a atenção pro brinquedo do Demônio que estava segurando; Aquelas frases... elas não paravam nunca!!! O sangue começou a subir à cabeça; "Vivaacriança! Vivaacriança! Vivaacriançaaaa!" Até que urrou de raiva e atirou aquela bosta num rio que tinha perto. A voz cessou, e ela ofegava de raiva enquanto via o troço afundar na água suja. Quando voltou pra casa, estava exausta. Não ia fazer mais nada aquele dia, ia se deitar logo, só queria isso. Abrindo a porta do seu quarto, e em cima da cama, estava o brinquedo!!! A gravação só repetiu uma vez: "Viva... a... criançaaaaaaa..." O grito que Rolinda soltou foi de gelar a alma. Ela começou a destruir a casa, tudo o que via pela frente. Quebrava tudo o que tinha na casa, a tv, o computador, as gavetas, as luminárias, gritando como um animal espetado enquanto o brinquedo cospia "Vivaacriançavivaacriançavivaacriança" que nem uma metralhadora. Ela foi tirada de casa gritando e esperneando, e internada num hospital psiquiátrico. Depois de um tratamento muito demorado e sofrido, ela recebeu a alta. Quando abandonou o lugar, não sabia para onde ir, já fazia muito tempo... Então deu as costas pra família, nunca mais veria qualquer um deles. E voltou todo seu tempo e foco para os Jogos Lariquentos! Teve seu treinamento entre as pirâmides e templos guatemaltecas. Somente quando conseguisse sacar a pedrinha da mão do mestre, seu treinamento estaria terminado. Só que o filho da puta era rápido! Afiava suas armas ansiosamente, em meio àquelas paisagens do paraíso perdido, nos momentos em que o treinamento não a exauriam. Só pensava na gratificação de ratazanas, mas das bem graúdas, a roendo viva! Mas que vitória! Ela passou pela prova da pedrinha de novo, e sacou ela em milésimos de distração. "Muito bem, jovem gafanhota. Agora em quantas parcelas vamos acertar o treinamento?" Agora essa pergunta a pegou desprevenida! "Qual é? Eu não sou feito de dinheiro! Como é que você acha que eu faço pra comer?" Ficou parada sem reação. O velho tava ficando puto. Então ela tacou com tudo a pedrinha na testa dele, e fugiu correndo enquanto ele estava caído agonizando de dor. E enfim os Jogos Lariquentos chegaram! Foram sediadas numa fortaleza fuleira de ciganos, um castelo do Drácula, toda detonada. Rolinda viu uns ratos guinchando na entrada, era a vitória sorrindo para ela, tinha certeza! Diante de um sujeito fantasiado numa toga, a autoridade máxima, o patrocinador, ergueram as armas. - "Nós que estamos prestes a morrer, o saudamos!" Entre eles tinha sempre que ter aquele enrolado que tentava acompanhar baixinho: 'ãããnãnanãnããã" e em voz alta: "saudamos!" - "E que os jogos comecem!" E foi uma matança inigualável, tudo em nome do amor. Por animais, aparentemente. Todo mundo pulando e matando uns aos outros. Eram todos traiçoeiros, todo mundo queria ganhar, ninguém queria se foder. Ia tudo muito bem para Rolinda, até uma espada lhe atravessar profundamente entre as costelas! Era do ex - marido dela! Se jogou no chão para ferí - la mortalmente! O argentino! Aquele que ela detestava! Aquele que fumava que nem uma chaminé e não facilitou em nada a vida! O argentino maligno que ria diabolicamente enquanto ela ia ao chão que nem um barco e morria. Em seus últimos momentos, viu o ex - marido argentino aniquilar a competição com teatralidade e habilidades espantosas e emergir vitorioso! Ele ria! Tava todo faceiro! Então, recebeu um banho de molho rosê e foi jogado em uma gaiola cheia de ratazanas que não foram alimentadas por 1 semana! E aquele foi seu mergulho para a glória!!! Moral: Assista aqueles filmes só pela trama.