domingo, 26 de julho de 2015

Abinoã - Cooptando Reis

Tudo começou há muito tempo com Abinoã, o tigre que vomitava. Ele era folgado e relapso demais para provisionar sua casa toda vomitada, e decidiu tomar café da manhã no Bob's, para depois regurgitar a comida semidigerida. Não foi sem alguma hesitação que ele decidiu tomar café lá, pois o Bob's tinha o problema de que às vezes tava fechado; ele ia às duas da madrugada e tava fechado...

Mas Abinoã deu sorte: naquela manhã, estava aberto; lá eles serviam o café da máquina numa temperatura que fazia magma derretido parecer morno e tinham uns salgados com vidro moído dentro, os mesmos com os quais tinham músicas na rádio pedindo para as pessoas terem cuidado.
A escolha de Abinoã foi motivada pelo fato de, ao contrário do McDonald's, eles não terem frescura e servirem chope; era bem disso que ele sentia necessidade pelas dez da manhã, visto que Abinoã era a própria imagem da decadência.

Muito para a chateação de Abinoã, a máquina de chope estava fora de funcionamento, e talvez o Bob's tivesse abandonado a venda de chope para sempre. Em todo caso, ele pediu no balcão um combo com fritas média e refri; só que o atendente respondeu muito irritadiço que eles só serviam esses lanches pelas onze e meia, agora só tinha café da manhã. Talvez aquele atendente fosse tão altivo e rebelde por levar a sério a alcunha de "colaborador" da rede, coisa que ele não era fora dali e nem para mais ninguém.

Abinoã ficou deveras consternado com essa palhaçada, mas então pediu seu café da manhã. Ele pegou, como sempre fazia, qualquer coisa dentre as ofertas que tivesse alguma palavra sem significado nenhum do lado do nome, como "Gourcius", ou "Gahmuret" - seja o que fosse, parecia uma palavra para usar como piada interna em um grupo de retardados. É claro que essa estratégia de marketing era o que influenciava Abinoã.
Foi uma gordurosa manhã para recordar... ele comeu uma coisinha mínima de manteiga e massa podre e continuava com fome.

E enquanto bebia o seu café para maiores bolhas na língua, ele pensava como poderia ser o resto do dia. Ele provavelmente iria fazer coisas que ninguém mais poderia fazer, como encabeçar um exército em uma guerra ou se envolver em brigas, sem nenhum fundamento aparente, só porque ele era e não era tigre, e não estava fazendo coisas de tigre como criar uma manada (pra qual ele preferia pagar apenas pensão alimentícia). Talvez a única coisa que levasse Abinoã a agir era a violência, a violência extrema, gratuita, que pulavam das palavras escritas o tempo todo diante dele; era um absurdo tanta morte, tanta violência, tanta teratologia; ele tinha certeza que tinha nascido no país errado e iria para um lugar onde não se visse nada disso.

E de qualquer forma, ele sempre morria. Era só um ciclo interminável na qual suas cagadas e burrices eram punidas com a morte. Talvez houvesse um dia em que ele não teria que se preocupar com a morte, quem sabe o dia em que ele se tornasse um vampiro (e aí seria normal vir sangue nas fezes).

Mas sempre pairava a dúvida no ar se, com tanta combatividade de tigre, ele deixava de fazer alguma coisa. Algo no seu interior lutava para se soltar, por mais que ele tentasse resistir... ele deveria esperar pelo menos pela próxima Copa...

Mas não ia dar, e, num momento de fraqueza, ele pôs todo o café da manhã dele pra fora, deixou a mesa toda vomitada. O atendente rebelde prontamente se manifestou: "cacete, o que foi essa agora? Vai ter que limpar tudo com a língua, seu puto!" - E Abinoã perguntou se eles não tinham um vinhozinho não.

Moral: Sempre lave suas mãos