segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Abinoã II - O Outro Lado

Tudo começou há muito tempo, quando Abinoã, o lendário tigre que vomitava, estava se entediando até morrer em um curso de história do Afeganistão, no Clube Afegão. E de repente, houve uma atividade para trazer na semana seguinte: bolar uma ideia para um novo clube, visto que aquele clube seria completamente demolido com toda a turma em sala.

O problema é que Abinoã só conseguia chegar nos últimos 10 minutos de aula no único dia que ele conseguia ir, quinta, porque ele faltava todos os outros quatro da semana, não ia nas manhãs de sábado ou domingo de madrugada. Ele estava muito prejudicado no conteúdo; na última prova ele só escreveu merda.
Ele se justificava dizendo que ele trabalhava o dia inteiro cortando mato, o que ele provava pra professora mostrando seus dedos decepados com o facão enferrujado. Ela compreendia, mas achava muito, mas muito ruim.

E o trabalho em sala era a única chance de Abinoã avançar de módulo! A sala inteira tinha três aulas para apresentarem seus trabalhos, enquanto Abinoã tentava desesperadamente conciliar seu emprego miserável e as aulas, coisa que seu chefe odiava, porque ele era cheio de carne. Certa vez ele mandou Abinoã matar um urso, mas ao final do expediente ele foi conferir e Abinoã só havia sujado todo o terreno com latas de cerveja, vomitou como de costume, e desmaiou do porre em cima das farpas do bambu que ele cortou.

Foram duas aulas e Abinoã deu a mesma desculpa esfarrapada de sempre e disse que "na aula que vem ia estar pronto". O fato era que ele não sabia mexer no powerpoint.

Além do mais, ele estava absolutamente sem ideias, o cansaço não lhe dava nenhuma margem para pensar, apesar de considerar aquilo a coisa mais importante da sua vida no momento. Todas as ideias boas já foram pegas: clube de música, clube de esportes ao ar livre, clube de oratória, clube de informática, clube da luta (que não teve apresentação, tendo em vista a primeira regra do clube) e clube do livro, ideia que veio ironicamente de uma guria da sala cuja única coisa que ela leu na vida foi 50 tons de cinza.

Eventualmente Abinoã fez das tripas coração e conseguiu terminar o trabalho no último instante, no ônibus que pegava para ir para as aulas do clube. Ele ia apresentar por último, em seguida da apresentação da caçula da sala, a Lulu, de 7 anos, que era um amor de pessoa.

A ideia dela era um clube de bonecas de pano, para resgatar a antiga arte perdida das bonecas de pano das avós, que eram amplamente personalizáveis e promoviam um ótimo diálogo entre gerações e trazia uma dimensão lúdica a uma atividade artesanal.

Abinoã deu uma risada ruidosa de desdém, disse que era a coisa mais escrota que ele já tinha ouvido. E que a ideia dele era mil vezes melhor. Pois então a professora pediu para que ele a apresentasse. "Só um minuto" ele pediu, e a professora concedeu. Ele saiu correndo da sala para o banheiro no corredor, levando a bolsa cheia de tralhas inúteis dele.

Já foram 40 minutos, estava todo mundo revoltado querendo ir logo pra casa; as aulas terminavam tarde. A situação agravava a cada momento, daqui a pouco ia ter que chamar o choque. Foi aí que Abinoã arrebentou a porta da sala com um chute.

E quando ele apareceu diante da turma, ele estava com uma roupa reveladora muito justa, e começou sua apresentação de powerpoint, com danças provocantes que estavam deixando toda a sala louca de desejo. O Juca quase se levantou descontrolado da cadeira, estava a ponto de bala; mas os coleguinhas o detiveram antes que houvesse cenas fortes demais.

A apresentação de Abinoã era sobre a única... fantástica... Manteiga de Cacau para Curar Fobia de Barcos 2000! Só tinha dois slides com a formatação mais vagabunda da face da terra. Estava completamente imprestável, e pra piorar Abinoã ficava pedindo momentos de paciência para ajeitar tudo, o que ele não conseguia.

Para o enorme constrangimento de Abinoã, a professora falou o mais alto que pôde que a apresentação era uma ideia de clube, não um treco qualquer! Ele precisava prestar mais atenção! Todos riram e ele ficou nauseado de ódio diante de tanta humilhação.

Ela então ergueu Abinoã em seus braços e o levou para fora da sala. E atrocidades se seguiram! O crânio dele foi esvaziado para virar uma caneca de água de conserva de rollmops, que ela bebia todinha. E a sala ficou revoltada que nem renas com uma demonstração tão grotesca. E ela ficou feliz que um palito de dente veio junto.

Moral: Respeite normas de etiqueta nas redes sociais.

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