quarta-feira, 26 de março de 2014

Poroto, o pinóquio que desce a lenha

Tudo começou há muito tempo, em uma mágica manhã de natal, onde todas as crianças brincavam em uma neve feita de cocaína, quando um gurizinho foi abrir seus presentes, para ver se tinha ganhado exatamente aquilo que pediu para não começar uma gritaria.
Com papel de embrulho espalhado por toda sala, ele já estava relativamente satisfeito, mas ele se deparou com uma caixa um tanto estranha. Ele sacudiu um pouco para ver o que tinha dentro, e ouviu uma voz gravada de brinquedo dizendo: "Bola de fogo!" - Era só o que faltava, ele ter ganho um boneco funkeiro. Se fosse, ia dar a descarga nele, mesmo que seus pais tivessem pago R$ 299,00 por ele; que moleque imbecil.
Ele finalmente abriu a caixa e se deparou com um boneco de madeira, que por algum motivo estava zangado e vinha com uma faca de cozinha.
O moleque ficou felicíssimo e nomeou o boneco de "Bola de fogo", visto que a criatividade e imaginação das crianças é coisa de outro mundo. Infelizmente, o brinquedo se recusou a atender por esse nome, e o interpelou: "Bola de fogo é o cacete, não me chamo assim. Meu nome é Poroto" - e logo explicou que ele só devia lealdade ao Sacro 'Império Romano-Austro-Húngaro-Germano-Tudo-Mesma-Coisa', defensor da Fontmort, uma organização rexista com nome de queijo, e seus únicos valores eram Deus, família e propriedade. Também explicou que era avidamente contra o Comunismo, que era a pior coisa que poderia acontecer para uma sociedade. De forma a preservar os mais íntegros valores e evitar a disseminação comunista, ele defendia exterminar aqueles 'escurinhos' com cara de pobre.
Ele também disse que só brincava 'se tivesse vontade', caramba. Constrangido, o guri tentou puxar assunto com ele, perguntando que tipo de música ele gostava. Poroto respondeu que só ouvia "metal melódico ambiguamente cristão" de cantores com nomes ruins que por mais cristãos que sejam falam um monte de putaria sobre carpintaria e gelo. Ele até mostrou um CD de uns caras, e o guri disse:"legal" - "Legal, né, cara?!" - e Poroto o forçou a ouvir todas as faixas.
E assim, eles se divertiram um monte, enquanto Poroto batia no guri com suas madeiras dolorosas que vinham incluídas na caixa junto com pilhas AAAA que precisam ser importadas da puta que pariu. E à noite, eles saíam voando pela cidade, e o moleque cantava com sua voz castrada que estavam "voando num voo no meio do ar, que era bem alto", e que "os retardados, logo abaixo, eram pegos de surpresa por trás e nem acreditavam nos próprios olhos, quando viam a gente transando no aaar..." - e todo mundo olhava, apenas para constatar que era mentira.
Poroto conseguia voar com pensamentos felizes de judeus mortos e com suas pilhas ultraespecíficas, se tornando parte da força aérea dos Poderes Centrais, que eram os 'vilões', enquanto os Aliados eram os 'bonzinhos'.
Por tamanha diversão, o guri lhe era eternamente grato, mesmo que tivesse que tomar muitos remédios controlados para tolerar Poroto.
E um dia, Poroto disse que ia começar umas aulas de MMA, porque disse que é muito maneiro e demais, e agora ele só comia açaí com whey e "treinava". Sempre que o guri queria voar, ele dizia, "agora não, guri, tem treino". Poroto jurou que seria o campeão do universo em MMA. Mas ele nunca foi em uma aula sequer.
Foi o primeiro grande afastamento do guri de seu brinquedo favorito, e a situação só era agravada enquanto ele era zoado na escola por ter um boneco autoritário ao extremo no orkut e por estar na puberdade. Até que ele decidiu tomar uma providência;
Justo quando Poroto planejava como ia derrotar o Anderson Silva (em sua defesa, ele não era uma marionete bem informada), chegou o guri e disse: "Então, sabe... aquelas coisas... que a gente fazia enquanto voava? Ah, então... Isso pode ter te deixado, tipo, meio assim, meio que... grávido". Poroto disse: "Ah meu Deus, meu Deus! Vou fazer os exames!" - mas o guri disse que tinha certeza, e Poroto disse que 'então tá'. Mas ele ficou muito mortificado! Nunca achou que aquilo pudesse lhe acontecer!
Um pouco mais tarde, quando o guri voltou para vê - lo, um pouco arrependido do que o fez acreditar, Poroto tinha sumido!
Ele percorreu toda a vizinhança, levando ovada e verduras podres na cara e sendo eternamente zoado até achar Poroto.
Ele estava todo machucado, jogado no mato; tinha vários ferimentos de galho de mamona, tentando provocar em si mesmo um aborto, 'sem que ninguém soubesse'. O guri ficou arrependidíssimo do que fez, tomou o brinquedo nos braços e chorou...
Vários anos se passaram, e Poroto ficou jogado de lado, embora devidamente tratado dos antigos machucados. O guri agora já trabalhava e estava casado, e um dia se lembrou do boneco, e todas as alucinantes aventuras que viveram.
Depois de ter as pilhas trocadas, Poroto agora era "promoter" de umas festas por aí, de acordo com seus valores integralistas; era o tipo de festa 'diferenciada', sabe - se lá pra quem, que só tinha bebidas ridículas que custam R$ 20,00 a gota, umas comidas caras, afetadas e nojentinhas que ninguém gosta, ao fantástico e contagiante som de silêncio; isso quando ele não 'contratava' escravisticamente os DJs mais patéticos da face da terra, com cara inigualável de palerma e nomes apropriados a tal condição como DJ "Libertem os Beagles" ou DJ "Sem Beagles".
E ele vestia umas fantasias supercretinas venezianas que ninguém entendia e esperava que entendessem ("ah, você tá de pirata, né?) - perguntando para pré - adolescentes bicuriosos se eles gostavam de chocolate, e se respondessem afirmativamente, ele iria repetir a pergunta na expectativa que confirmassem a resposta, só para dizer 'que azar, a gente só tem porcaria hidrogenada'. E 'tão achando que a gente tá na Disney, porra?'.
Essas festas foram fiascos que renderam a Poroto um prejuízo financeiro monstruoso, os bancos estavam atrás do couro dele e ele estava oficialmente na merda.

Moral: Coma bastante salada.

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