terça-feira, 11 de março de 2014

O Abinoã que seria rei

Tudo  começou há muito tempo, o tigre mágico que aos quatro ventos vomitava, devido a bulimia e alcoolismo.
Ele não trabalhava e ainda assim o quintal dele parecia a mata atlântica e a casa estava congestionada do volume de roupa suja. Sabe por quê? Porque Abinoã não achava nada aquilo importante, mandava tudo praquele lugar.
Importante para ele era se tornar um grande escritor. Não que ele escrevesse alguma coisa, mas era o que ele colocou como 'trabalho' no facebook e achava que isso justificava selfies dele de sunga branca. E ele se citava no facebook, aniquilando qualquer dúvida quanto a se ele era um otário ególatra e cabação ou não.
O máximo da habilidade dele eram efeitos visuais apelativos e odiosos no word, como relevo nos textos e mudança do tamanho da fonte no meio do texto, como se quem estivesse lendo fosse um enorme demente.
A partir daí ele trabalhava febrilmente no que ele queria que fosse a obra - prima da sua vida: A história de uns troços que eram feitos por um cara lá que precisava de um negócio e chamou um cara lá que fez uma coisa e eles fizeram umas outras coisas juntos e não deu muito certo. Tamanha visão renderia milhões de obras vendidas.
Entretanto, ia demorar um pouco para publicar. Abinoã parecia mais preocupado com a data de nascimento dos personagens e os abdomens tanquinho que teriam, detalhes sem os quais não haveria nenhuma trama decente, que o diga obras - primas dos dias atuais recentes de hoje em dia ultimamente, tipo Crepúsculo.
Ele também gastava um tempão inserindo todo tipo de frescura no Wordpress que coubesse na página, tipo o contador de quantos animais eles param de matar se você virar vegetariano, ou quantas pessoas no mundo inteiro acessaram a página com grandes expectativas de encontrar pornografia.
No doloroso ritmo de uma palavra por dia, a trama prosseguia e Abinoã estava cada vez mais imerso no universo que criara. Mas não só isso; ele se melava inteiro já pensando no reconhecimento de sua obra, dos prêmios, já pensava nas 'falas' para suas entrevistas, e do prazer mesquinho que sentiria quando pudesse usar seu sucesso para causar revolta nos filhos da puta que ele odiava, como aquela professora de redação que ele considerava uma bruxa asquerosa.
Muito, mas muito tempo depois, o trabalho de sua vida estava concluído, e ele mandou por email para a editora, mas logo em seguida um avião caiu em cima da casa dele e explodiu, matando - o.
A editora decidiu publicar o livro, em respeito à memória de Abinoã. Mas que azar! O título escrito por Abinoã foi o último de todos de uma era em que os escritores só escreviam para si mesmos em extensões de um ego descomunal, prova disso é que escreviam apenas em frases de efeito citadas e trucidadas em redes sociais por aqueles que querem pagar de intelectuais.
De repente, todos passaram de fato a ler os livros ao invés de citá - los sempre que podiam; foi como uma cruzada das crianças. E os autores saíram um pouco de cena com suas intermináveis autocitações forçadas e fotos com caras de paspalhos em revistas e redes sociais. Alguns foram esquecidos.
Mas bem feito pro Abinoã, o filho da puta.

Moral: Ajude os idosos.

Epílogo: Abinoã queria muito entrar pra Academia Brasileira de Letras. No entanto, o apelo visual com efeitos de word o transformou postumamente no autor mais adorado das crianças e retardados.

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