sábado, 26 de setembro de 2009

Redenção por Mortadela da Morte

Maior texto do blog.

Tudo começou em 2190 d.C., quando a guerra estava começando. Era um soturno e nublado sábado em uma cidade feudal e provinciana, cujo símbolo deveria ser uma pessoa sentada no sofá sem nada para fazer, pois tal era a realidade do povo colono e provinciano que nela vivia. Chovia sem trégua sobre seu território, e quando chegava o final de semana, seus habitantes aglomeravam – se nos únicos dois shoppings centers bons da cidade ou então nas boates mais do que manjadas, deixados sem nenhuma outra opção de lazer que senão ver o Nilson Golçalves. Seu centro era uma área taciturna e decadente, e havia um rio de esgoto a céu aberto que corria por ela. O povo já citado era composto primordialmente de operários metidos a burguesia, maloqueiros e, em especial, descendentes de europeus que acham que são europeus (ou seja, os arianos latinos da Europa do Sul, que acham que o resto do país é um imprestável amontoado de jagunços portadores de machadinhas e de ignorantes analfabetos, e que do Chuí a Curitiba é território europeu ou estadunidense. Qualquer um que não seja um sulista é um vagabundo, e enquanto os próprios sulistas, que mamam nas verbas do goveno, não são vagabundos. Eles não dão a mínima para os problemas socioeconômicos do país, pois viver numa região augusta e semiaustriáca como o Sul já é uma causa vencedora, ela é suficiente sozinha, pelo menos até os últimos meses do ano chegarem com as chuvas e ela se transformar no reino submerso de Atlântida para implorarem por assistencialismo ao Presidente. Se pudessem, chamariam um pai-de-santo para ressuscitar o finado “herói” dessa gente, o seu Adolfo, e juntos embarcariam numa cruzada para purificar a raça que não era os brancos amarelados, os suíços tupiniquins que são os sulistas). Voltando ao assunto anterior, a cidade era tão irrelevante e interiorana, apesar das ilusões de grandeza que seus moradores lhe atribuíam, que só faltava o incesto ser comum, e o pior, possuía a mesma taxa de criminalidade de um Rio de Janeiro. Nela, um julgamento iniciava - se, em um tribunal quase vazio (à semelhança da cidade), onde só estavam presentes juiz e réus (Em anos anteriores o sistema judicial da cidade involuiu de forma que a justiça não poderia ser menos precária, não que ela não fosse antes...), e mesmo assim, a sessão continuava. Estavam sendo julgadas Virilha Johnson Bau e Cristina no Gelo Bau, aparentemente envolvidas em acusações de crimes hediondos. O juiz, um homem calvo de tez escura e viçoso bigode negro, e que também exercia a função de promotor, apresentava – se aos reús:

“- Saudações. Meu nome é A. A de Abóbora. Acredito que vocês saibam porque estão aqui.”

“- Na verdade, não, senhor.” – disse Cristina no Gelo, cabeça baixa, com um ar de confusão e culpa. Em virtude da resposta, A. de Abóbora bufou irritadamente e franziu sua fronte, e tentou indiscretamente manter a compostura. E então, continuou sua fala.

“- Vocês estão aqui sob as acusações dos assassinatos de Simbago Varisson, Padre Amúlio e Andino Salvacionista Bau, na noite anterior (...)"

O último nome colocou Virilha Johnson em angústia e reflexão. Era o pai dela e de Cristina no Gelo. Assassinado. A de Abóbora prosseguia e após tal breve distração, ela voltou sua atenção ao discurso dele. Subitamente, ela o interrompeu, dizendo:

“Andino era meu pai.”

“- Sim” – disse ele, não parecendo muito perturbado pela interrupção, apesar de sua fraca paciência e propensão a humores coléricos – “A família Bau tem um histórico conturbado, sombrio, maligno. Vocês estão familiriazadas com o nome Huvi Bau?”

“Não” – responderam juntas, sem sincronia. Até mesmo A de Abóbora não parecia muito confortável ao tocar no assunto. “- Ele seria o tio de vocês, caso estivesse vivo. Ele viveu há cinquenta anos atrás. A cidade estava em condições ainda piores. Havia a questão socioeconômica dos maloqueiros em excesso, a crise das inexistentes formas de lazer, o permanente 1% de saneamento básico e os constantes ataques de ninjas, que engrandeciam o suplício de seu povo. Huvi nasceu o mais novo de dez filhos de um casal de impiedosos mestres de escravos, que podiam tê – los pois esta era a cidade sem leis. Ele nascera surdo, mudo e com grave idiotismo, em virtude de sofrível vaginismo e e defeitos fetais causados pelo remédio que sua mãe tomava, para dores de cabelo. Quando completou 5 anos, seus pais lhe deram luvas de boxe de presente, com as quais ele tentava preparar suas próprias refeições, sem sucesso. O tempo passava, e esses defeitos cruficicaram – no durante o tempo que estudava no Colégio de Educação Secundária de Tadeu Putain. Vivia como um fantasma em seu meio. Com sua audição rota e palavras a jamais serem pronunciadas, de que lhe adiantaria aprender sobre plágio, ou sobre “Kuo Ben Da La (廓笨打剌)”, ou “Luo Le (捋扐)” ou “E Ma Nu Er Zuo Le (屙媽奴鴯 嘬扐)”?
Tão distante do Olimpo, ele era um espírito disforme e aprisionado em disfuncional prisão humana. E então, decidiu recorrer a prazeres cruéis numa tentativa de “vingar” tal condição, e planejou matar alguns escravos de seus pais na primeira ocasião vindoura, que seria um churrasco. E este ocorreu em uma churrasqueira próxima a uma piscina, onde a escuridão era sobrepujada pelas luzes laranjas das lâmpadas, que refletiam sobre as águas da piscina, com excesso de cloro. A razão desse evento era a confraternização familiar que precederia o casamento de Andino Salvacionista Bau com sua irmã Milenka, que daria luz a uma nova geração de Baus e poderiam negociar escravos e comemorar comendo bolo. Huvi estava lá, porém alheio aos ânimos da ocasião. Ele queria friamente assassinar dois escravos presentes com um rojão. Quando ele disparou o projétil, este caiu em cima dele, e ele foi coberto por chamas. Seus pais alarmaram – se com o fato, e tentaram salvá – lo. Seu pai despejou sobre ele um balde de gasolina, que, estranhamente, não apagou o incêndio. Huvi gritava em agonia enquanto ardia nas chamas que consumiam sua carne tal qual um leitão espetado, e seus genitores incompetentes e retardados não sabiam que havia uma piscina ao lado deles. Em um nova tentativa, o pai deu – lhe um bico com o pé, para que com o vento, ele se livrasse do fogo, mas o chute foi mal direcionado, e Huvi caiu dentro da churrasqueira, e por fim morreu queimado.”
Subitamente, a narrativa de A de Abóbora é interrompida pela entrada de Conasemtarna, a sua secretária.

“- Seu café está pronto, senhor” – disse ela.

A de Abóbora pegou a bebida e tomou um pouco desta.

“- O café de hoje está com uma textura mais densa, sabor diferente e um cheiro muito peculiar” – comentou.

“Eu precisava urgentemente usar o banheiro e o que estava mais próximo de mim era a cafeteira, senhor.” – ela disse, impassível.

A de Abóbora franziu totalmente o rosto, e sobre ela despejou sua fúria:
“- Está morno! Como você me traz café morno! Surrarei – lhe até o inferno por isso! E se você comesse mais fibras e tivesse hábitos saudáveis, o café estaria melhor, sua rameira!”

Então, após tê – la mandado se retirar (para evitar grande rebelião) e decepcionado profundamente com seu café, retomou o julgamento. Mentira. Retomou sua interminavelmente longa narração sobre os fatos que ligavam o terrível passado da família Bau e as ocorrências recentes.

“- Anos mais tarde, a família Bau e seus escravos foram massacrados. Foram desmembrados com golpes de mortadela, e uma mortadela foi encontrada pendendo do teto da casa onde o crime aconteceu. E a mortadela era mortadela Perdigão, de boa qualidade, o que só pode significar que o assassínio teve forte conotação emocional, logo, uma grande importância para o executor, pois o ramo de assassino em massa da mortadela não é muito rentável, logo ele não pode sair por aí comprando mortadelas de marca.”

“- E vocês descobriram o culpado?” – Interpelou Virilha.

“Claro que não! A justiça nessa cidade é risível! E, se nosso sistema de policiamento já é tão canhestro, você precisa ver o nosso setor legislativo! Apesar do progresso de termos proibido por lei o incesto, ainda lutamos para sancionar a lei que proíbe o ato de defecar em lugares públicos, que não tem adesão popular.”
Após tal estouro denuncista, A de Abóbora recuperou a calma e começou a falar como um ser humano:

“- O pai de Huvi, Namer Van Bau, fazia seus escravos fabricarem mortadela de cavalo, e Huvi de vez em quando entrava no galpão onde ela era feita, sendo testemunha do processo cruel e desumano (para com animais) da fabricação de mortadela, e talvez ele fôra influenciado a matar pela atmosfera de morte e carnificina do galpão de mortadela. Se Huvi estivesse vivo quando o massacre da mortadela aconteceu, este seria até justificável. E o pai de vocês, Andino, foi o único Bau que sobreviveu aquele holocausto, pois estava em sua nave espacial com sua tia que também era sua mãe, devido ao incesto. Vocês dias nasceram na espaçonave, e sua tia/mãe morreu no último parto, quando deu luz à Virilha, para grande desgraça. Vocês e Andino Bau voltaram à Terra, justo nessa cidade deprimente, onde viveram as últimas duas décadas. Seu pai, para pagar a nave espacial que ele comprou e parcelou em um bilhão de vezes com juros (tendo ela custado três quadrilhões de reais e tendo ele de pagar R$ 3,27 por minuto), reativou o galpão de mortadela, sem mão-de-obra escrava, apenas ele e seu cachorro trabalhando. E se este último não estivesse fazendo um trabalho, seu pai desceria a porrada nela. Até esses últimos dias, vocês viviam bem, sustentadas por seu pai, pertencendo a uma classe nem muito grande, nem muito pequena. Uma classe... média. Porque, apesar da dívida da espaçonave, sempre haviam quartas – feiras de comida japonesa e férias julinas em Bariloche. Mas, de repente, ocorrem três assassinatos em um único dia, seu pai sendo uma das vítimas, ontem (que foi sexta – feira, o dia com maior propensão a más ocorrências. Ironia do destino). Seu pai foi golpeado até a morte com mortadela, e Padre Amúlio teve seus olhos furados com mortadela, minutos depois de ser surpreendido pelo assassino enquanto olhava suas fotos de pedofilia, e depois este enfiou mortadela na garganta dele até ele morrer engasgado. E quanto a Simbago Varisson, de 22 anos, ele era DJ da boate SUUN. Ele ainda morava com os pais, apesar da boa soma que lhe era paga para apertar botões para reproduzir entulho sônico (leia – se pagode e funk). Em seu (enorme) tempo livre, ele paquerava garotas de 13 anos de idade e jactava – se ser o maior marombeiro, cultuando seu físico “construído” com 4 dias de academia e 200 potes de proteína desidratada. Seu excessivo zelo pela boa forma física o levava a nadar na piscina gelada em pleno inverno, em uma tentativa de unir optimalismo com existencialismo, que tinha a ver com fisiculturismo, e também com “Clube da Luta” e “Conan, o Bárbaro”, e todas as estas coisas não tem nada a ver uma com a outra. Ontem mesmo, quando performava esse ato imbecil, ele foi afogado e sofreu lacerações causadas por golpes violentos de mortadela. O instrumento do crime foi encontrado no fundo da piscina. Notem que a piscina é a da churrasqueira na qual Huvi Bau morreu, pois os Varisson se mudaram para antiga casa dos Bau após a infame ocorrência de muitos anos anteriores ter reduzido drasticamente o preço da propriedade, e eles deixaram seu pai utilizar o galpão de mortadela que vinha incluso no lote para seu sustento.
“- E onde você quer chegar
com isso?” – Perguntou Cristina no Gelo, impaciente.
“- Vocês não vê as relações que esses crimes têm um com o outro? A morte de Padre Amúlio conecta todas as outras. A família Bau era muito religiosa, assim como Simbago, este que tentava associar Jesus com surfismo e raves, numa falha e desesperada tentativa de mostrar que o cristianismo não é careta, mas isso o levava a um novo nível de caretice, até então incompreensível pelo ser humano.”

“- E, afinal, o que nós temos a ver com isso?”

“Vocês são as únicas pessoas que, além de Huvi Bau, tem alguma relação com tais crimes! Seja o ódio por religião, o fato de herdarem um promissor negócio no ramo de mortadelas, ou o histórico de sua família, ou até mesmo o fato de não haver banheiros públicos!”

Cristina no Gelo se levantou, e no auge da indignação, exclamou:

“- Isso é uma calúnia! Você não pode provar! Todo esse julgamento não faz sentido! Você está nos caluniando! Seu sem - pai!”

“- Cale – se, rameira! Eu represento a única justiça nesse refugo de cidade! Eu sou o sistema judicial! Você não tem nada contra mim! Se eu pudesse, eu já teria as condenado à morte por anão do momento! E o único motivo pelo qual eu estou prolongando esse julgamento é para que as pessoas que o estão acompanhando de fora acharem que estou fazendo a coisa certa!

Sem nenhum argumento que pudesse combater a autoridade de A de Abóbora, Cristina no Gelo sentiu – se afogando em sua raiva interior, e tentando recuperar a calma e o juízo, pediu:

“-Preciso ir no banheiro.”

A de Abóbora aceitou o pedido e deixou – a ir. Lá, ela tentava sobrepujar o nervosismo e achar um jeito de sair daquela situação. Talvez ela arrancaria um dos vasos sanitários e o utilizaria para matar o corrupto juiz, e com sua irmã fugir daquela odiável urbe. Para o México, quiçá. Mas, subitamente, ocorre um blecaute. As luzes fortes morrem em favor da iluminação fria, pusilânime e e alva das luzes de emergência, que mal impedem os corredores do edifício de se cobrirem das trevas do desconhecido ao olhar. Apoiando os braços sobre a longa e fria pia de mármore, ela tentava raciocinar com uma mente dispersa pelo medo, queria saber o que acometeu as pessoas que deixara para trás na corte. Abrindo a porta do banheiro, ela via o corredor, fracamente iluminado, horizontes limitados pela barreira de sombras. Quando ela voltou para a corte, trêmula de medo, e ingressou a sala, esta iluminou – se rapidamente, e então, ela se deparou com o horror: Virilha e Conasemtarna caídas de bruços sobre as mesas da corte, gargantas cortadas por mortadela, com as peles gélidas e brancas de morte, com respingos do rubro do sangue. Ela houve um engasgado lamento que expressava somente grande agonia, e vira – se e vê A de Abóbora, um pouco caído, com uma voz chorosa e dolorosa, gritava:

“- Ele cortou as minhas pernas!”

Olhando para baixo, ela notou que, realmente, suas pernas foram – lhe subtraídas, rebaixadas a tocos que alimentavam uma crescente poça de sangue no carpete verde – piscina escuro. Ela recuou, em horror, com a cor da cera em sua face, e quando virou – se, o assassino emergiu das trevas. Um humanoide, sem face, pele cinzenta como a de um morto, com dicas de que morrera queimado, devido às manchas escuras nela, e usava trajes que pareciam ter sido igualmente queimados. Em sua mão, a mortadela, suja de sangue. Era Huvi Bau, semi – humana paródia de vida e morte, movida pela ânsia de matar com mortadela. O assassino da mortadela original,o que só poderia ser logicamente explicado pelo fato de que, nos dias de sol, ele alugava filmes que não existiam. Cristina no gelo pôs – se a correr o quanto pôde pelas ruas da cidade, escuras, e iluminadas pelos postes, luzes laranjas, para escapar do maníaco. E, apesar da cidade estar a muitos anos de nosso tempo, pouca coisa mudou (o que era de se esperar de uma cidade plebeia e de segunda como ela), exceto talvez pelo edifício do tribunal que ela acabara de deixar, com sua futurista arquitetura, os blocos de gelo na calçada com aros azuis de neon (moradia para os maloqueiros) e as cabines de suicídio (excelentes para os moradores daquela cidade). Voltando à história, ela fugiu até a antiga casa dos Bau (agora a casa dos Varisson, que saíram para celebrar o Natal dos judeus). E ela foi para o galpão de mortadela, em busca de abrigo, mas o assassino a seguiu. E então ele a cercou. Numa tentativa desesperada de defender – se, ela pegou um clipe no chão e perfurou o tórax dele, que começou a sangrar profusamente. Grande foi a surpresa de Cristina no Gelo quando ela descobriu que a carne morta de Huvi Bau sangrava. Aproveitando o momento, ela voltou correr, e Huvi tentava segui – la, cambaleante, cobrindo com a mão o ferimento produzido por sua vítima, até as escadas de aço que os levariam até uma plataforma de fabricação de mortadela. Com sua arma de preferência, Huvi cortou o calcanhar de Cristina no Gelo, e ela caiu. Tudo parecia perdido. As energias dela se esvaíram, ela não poderia correr, e suava profusamente. Huvi apenas se aproximava para matá – la com a mortadela genérica em seu punho, mas ela, como se fortalecida pelo medo, pegou uma barra de ferro solta e o atacou, perfurando o rosto dele, e logo ele se desequilibrara como se perdesse a vida, e caíra da plataforma para um tonel de fundição de mortadela, onde ele foi finalmente destruído. Cristina no Gelo, para reforçar a resolução de que o maníaco perecera nesse dramático encontro, ateou fogo no galpão de mortadela, que seria reduzido a carbono, e as chamas alastrariam – se para a casa dos Varisson, arruinando – a igualmente, para que quando seus moradores voltassem da celebração hebraica e se deparassem com a cena, tivessem 3 ataques cardíacos seguidos e morressem. O futuro de Cristina no Gelo após esses eventos é incerto. Muitos anos depois, a cidade seria obliterada numa calamidade inominável, causada talvez pelo fato de que era a única cidade no mundo supostamente colonizada por noruegueses, mas que não tinha sequer um descendente de norueguês vivendo nela.

Moral: Nunca desista do coração, porque você pode chegar com sonhos até a realização de ambições de sucesso capitalista!

Moral 2: Toda a base pertence aos índios que, normalmente, australianos babariam.

Moral 3: Não cause raiva.

Moral 4: Ouça música ruim segundo parâmetros de elitistas cretinos.

Epílogo: Você pode até tentar se fingir um habitante da França medieval, para não precisar mais alimentar animais de estimação.

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