quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Dente Fatal

Tudo começou há muito tempo, com um dia na vida de Spi, o superespião que luta contra o terrorismo e salva o mundo, mais do que VOCÊ, que acha que ao usar uma sacola retornável careira está ajudando alguma coisa.
Ele foi encontrar com Mestre, seu chefe nos serviços de inteligência, para ter alguma coisa pra fazer. Foi assim que ele entrou no escritório de Mestre, abriu a boca para lhe dar "bom dia", e ele prontamente retrucou: "Silêncio, porra!" e lhe passou uma pasta classificada como "somente para seus olhos".
A missão de Spi, caso ele a aceitasse, era de encontrar Dente Fatal, um enorme dente cariado e antropomórfico que era fatal porque ele chegava na casa das pessoas à noite, enquanto dormiam, e envolvia o pescoço delas com as mãos e apertava, apertava muito forte, e isso meio que matava as pessoas. Esse mesmo dente agora ameaçava a humanidade com um plano muito maléfico, e só Spi poderia impedí - lo, então não era bem uma questão de ele aceitar ou não.
Para tal incumbência, Mestre lhe aconselhou levar alguém de confiança junto, então Spi chamou Alca Chofra. Ele era um cara mais feio que briga de traveco, que atuava como músico medíocre e boxista idem; era um boxista de bosta. Fora isso, ele era um vândalo e absolutamente entregue a cervejas afrescalhadas que lhe faziam ter aventuras chatas pra caralho; exatamente o motivo porque Spi o chamou.
E a aventura monótona da vez lhes levou a uma ilha que vivia da extração de calcário e fabricação de laxantes onde havia praias ótimas cheias de mulheres lindas, mas Spi e Alca Chofra nem davam bola para elas, porque a amizade é dez vezes mais importante.
Mas havia também barmans anões especializados em caipifruta com adoçante aspartame, e Spi deixou Alca Chofra esperando sozinho duas horas enquanto ele virava todas e tentava seduzir um deles em troca de informação. Spi gostava de ficar absolutamente bêbado para inquirir pessoas durante suas missões, ele leu no Manual do Espião que as pessoas ficam muito mais abertas e revelam segredos mais facilmente com álcool.
Ele perguntou o que havia naquela outra ilhota próxima, cheia de pedras recortadas, a qual Mestre descreveu como um foco de atividade suspeita. O barman perguntou quem era Mestre, e Spi respondeu que era só um viado qualquer pra quem ele trabalhava, de quem nunca gostou. No amigo secreto da firma, Spi pegou ele três vezes e trocou todas, só para não dar um presente para ele.
Isso tudo enquanto ele transmitia uma gravação em tempo real sobre o progresso da missão para Mestre, que ouvia com lágrimas nos olhos.
Finalmente, o barman ficou todo encagaçado quanto à ilhota e alertou Spi para não ir lá por nada no mundo; lá havia um tal de "Jedi", uma criatura terrível que assombrava a ilha e atacava quem fosse infeliz o bastante de cruzar seu caminho. Spi riu ruidosamente com isso, achou que era só uma crendice de nativos ignorantes. Se ele porventura visse esse tal de Jedi, ele simplesmente iria chegar pra ele e perguntar: "E aí, como vai essa Força?" - hein? hein? Entendeu?
E esse rumor vago e incoerente foi o bastante para ele dar como concluída aquela parte da investigação, e ele agradeceu a informação completamente nu e vomitou na camiseta do barman, o que lhe fez incorrer em sua fúria.
Spi e Alca Chofra acabaram exilados na ilhota erma por seu comportamento antissocial. Os dois acharam aquele pessoal muito fresco, especialmente aqueles barmans anões. Só porque Spi no auge da bebedeira decapitou o avô de um deles?
E agora eles lutavam contra hordas de gaivotas por comida e sobrevivência. Era difícil demais; estavam cobertos de feridas e merda de pássaro, e só conseguiram uma bem magrinha para dividirem.
Eles se perguntavam quando teriam lagostim com manteiga hidrogenada cancerígena e um espumante vagabundo altamente cancerígeno de novo; e a resposta deveria ser nunca.
A noite caiu e os dois estavam andando sem rumo pela areia mole e o lodo daquela ilha. De repente, uma luz estranha surge... E um Jedi selvagem aparece!
Ele não era nenhuma criatura, apenas um jipe mal disfarçado, com um boneco de olinda do Obi Wan montado em cima, e um sabre de luz.
Spi, que era bazingueiro, olhou e não reconheceu quem era - "ué, Jedi? mas esse não é do Harry Potter?" - só porque ele não tinha nenhuma camiseta fedegosa dele. Ele e Alca Chofra começaram a atirar nele, mas a única coisa que conseguiram foi quebrar um farol e ficar sem munição. Alca Chofra de repente achou que era um boxista de verdade e partiu pra cima do Jedi, achando que conseguiria derrotá - lo no braço. Spi gritou: "Alca Chofra, não!!" - mas era tarde demais. O 'Obi Wan' brandiu seu sabre de luz e decepou a mão de Alca Chofra, que gritava em agonia. Do jipe saíram dois ridículos matutos armados e ordenaram que os dois entrassem no carro com as mãos para cima.
Enquanto eram levados para o desconhecido, Spi tinha um olhar doentio de ódio em sua condição impotente. Um dos captores que o observava pelo retrovisor achou que ele fosse um louco que odiava o próprio pai e queria matá - lo por causa de ração animal; deve ser tudo culpa desses iron maiden aí... 'quem ouve é psicopata só.'
E Alca Chofra já não sentia mais dor ou tristeza pela mão decepada. Afinal, mutilação é essencial para a vida.
Tava um clima muito desconfortável dentro daquele carro, e o outro algoz ligou o som pra ver se dava uma descontraída. Mas como era techno feito por anões, não ajudou muito.
Enfim eles chegaram ao Mentiroso, uma caverna cheia de pôsteres de homens nus na parede. O nome se dava ao fato do dono do lugar jurar de pés juntos que aqueles cartazes eram só para ele estudar anatomia, "já que ele estava aprendendo a desenhar".
Sob mira das metralhadoras dos captores eles continuaram conduzidos, até que Spi usou suas técnicas superiores de jiu jitsu para neutralizá - los. E Alca Chofra ajudou timidamente, batendo no pé de um deles.
Eles saíram correndo pelo covil adentro, e foram emboscados por um destacamento de mmazeiros com máscaras do Slipknot! Alca Chofra partiu pra cima deles, afinal ele manjava tudo de "boxe" e "mammamia" nem é uma arte marcial de verdade.
E ele foi absolutamente gangbangueado, levava bordoada por todos os lados de lutadores de uma modinha! E ele morreu de tanto levar socos na bunda.
Spi não pode ficar, e ele tinha que passar colírio para lente! Mas seu caminho o levou até o odioso Dente Fatal, que lhe disse que era tarde demais para impedí - lo, seu plano dominaria a todos!
Ele tinha sob seu comando um Gerador de Homens III, uma máquina que gerava homens! Com ela ele fabricaria um exército e conquistaria o mundo!
Só que Spi foi rápido para notar apenas uma incoerência em meio àquilo tudo. Era supostamente um gerador de "homens", mas os produtos que saíam dele liam assiduamente Men's Health, tomavam esses 'shakes' aí, perdiam horas se apalpando na frente de espelhos e manjavam tudo de horóscopo. Logo, não eram exatamente homens, senão um bando de narcisistas eunucos. Dente Fatal havia induzido milhares ao erro com seu plano maligno, e foi obrigado a pagar tantas indenizações que ele perdeu tudo e só lhe restou viver na penúria.
Spi não se incomodou em matá - lo, afinal nesse mundo pós - moderno, de que adianta fazer justiça com as próprias mãos e querer uma sociedade funcional, se não deixamos as instituições cuidarem das próprias funções?

Epílogo: Esse dente é um dente fatal.

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