quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Abinoã Galanteador

Tudo começou há muito tempo, quando Abinoã, o tigre que vomitava, na sua vida tipicamente à toa, decidiu ir atrás de uma guria que lhe excitava sobremaneira sua curiosidade, entre outras coisas.

O que mais lhe excitava nela era o fato de que ela estava envolvida na fabricação de fraldinhas, de pequenas fraldas de todos os tamanhos - embora pequenas demais pra bebês e grandes demais para rouxinóis e hamsters. Ela passou a ter uma produção individual, tudo bem caseiro, artesanal. Abinoã realmente tinha uma tara por livre iniciativa, empreendorismo lhe deixava louco de tesão.

E foi por isso que ele passou a conversar com ela no Orkut, para onde todos migraram depois da inevitável irrelevância do Facebook.

Ela tinha vários admiradores de seus dotes físicos naquela rede, e Abinoã também olhava as fotos para sodomizar sua imaginação. Olhando nos comentários, porém, algo despertou nele uma fúria bestial! Ele quase arremessou pra longe o computador! (porque pra ele tudo se resumia a ir na loja e comprar outro, bicho escroto)

"Ela é minha" - constava no comentário das 2:38 da manhã, de autoria de Percival. Ele era exatamente o que ele pensava dele mesmo, ou seja, um filho da puta fodido!
Percival passava a noite inteira se masturbando e falando com os the sims, aquele lá de tiro, e sua vida não tinha grandes acontecimentos até que veio uma solicitação de amizade da parte de Abinoã, que ainda vinha com scrap, o que era muita civilidade da parte de Abinoã: "kra, se vc falar de novo com a mina daquele jeito vc vai morre, seu otário corno fdp"

Percival foi tomado de sobressalto com aquela hostilidade comunicada, e não tardou em ripostar à altura: "otário é vc seu viadinho, vc ké apanha seu merda?"

Abinoã riu daquela ameaça, e respondeu em termos corteses, dizendo que ele iria cortar os membros dele tão devagar que ele iria implorar pra morrer logo.

E foram dias sem fim de uma violenta guerra visual e textual, de um mandando comunidades ofendendo a banda que o outro gostava; às vezes um deles até gostava da banda que estava xingando, mas aquilo era guerra, a guerra que corrompe o coração dos homens.

Certa vez Abinoã mandou uma foto, a primeira foto que ele mandou pra ele - sinal de que estavam trocando intimidades e o que tinham de bonito.
Era ele sem camisa esticando um cinto como se fosse um chaco chinês ou uma bandana - e a legenda era de que se ele não terminasse seus contatos com a guria, isso iria acontecer a ele.

"Isso o quê?" - foi a resposta de Percival. E Abinoã não sabia responder, o que só agravou seu ódio contra o suposto pretendente de sua amada.

E então Abinoã marcou deles se encontrarem para resolverem isso nos punhos. Percival perguntou se ele demorou demais pra propor isso porque era uma bichona.

Os dentes de Abinoã cerravam sem parar uns contra os outros, e o mero pensamento naquele Percival fazia seu sangue ferver em ódio.

Abinoã se dispôs a dar uma surra nele, mas de fato ele não estava acostumado a bater nas pessoas. É claro que nas redes ele era o fodão, mas na vida real ele era tímido e se deixava empurrar e encoxar no ônibus.

Ele precisava defender sua amada, que de tão atraente ele não sabia quantos quilos de carne ia precisar comer pra conseguir encher de porrada os cretinos que tentavam se engraçar com ela.
O que importava é que ele precisava agir logo e iria começar um regime unica e tão somente a base de carne. Pouco importava se o pai dele morreu por causa disso. Para Abinoã, só de comer carne ele ia criar músculos que ele precisava para ficar fortão e bater nos outros; era uma concepção que ele mantinha inalterada desde os 5 anos.

E ele gastou todas as suas economias indo em churrascarias todo santo dia, porque ele era folgado e incompetente demais pra cozinhar. Bem que ele comprava uns bifes, e no café da manhã ele batia no liquidificador e bebia.

Dias e mais dias fazendo isso ao som de eye of the tiger, Abinoã, além de hipertenso, estava pronto para enfrentar Percival. O dia fatídico chegou, e Abinoã ia precisar de todas as suas forças!
E então ele foi na churrascaria para mais um rodízio, que poderia ser o último, e então ele mandou pra dentro mais costela, picanha, maminha, cupim, e coraçãozinho, enquanto que os funcionários do lugar o observavam incomodados, porque ele não parava de chamar por eles e pelo que o dono do estabelecimento disse, ele já estava dando prejuízo. E assim Abinoã foi convidado a se retirar do estabelecimento.

Os dois oponentes tinham marcado de se enfrentarem em um lugar público, e para lá Abinoã foi, e todos que cruzavam com ele mudavam de calçada ao verem sua cara de raiva ensandecida e ouvirem sua respiração que parecia um chiado agudo. Foi uma caminhada de 15 minutos e Abinoã estava ensopado de suor.

E foram mais 15 minutos que Abinoã esperou, e grande foi a decepção, porque Percival não veio!
Ele mal conseguia acreditar; como ele poderia não respeitar o que disse na Internet? O que existe de mais sagrado do que as mensagens de texto do bate - papo completamente ignorado do Orkut, para não se respeitar?

E Abinoã não sabia dizer se venceu, porque não realizou justiça nenhuma contra Percival, o inimigo que estava lá na Internet,  com aquela selfie de um espelho que refletia a parede rachada, daquele sorriso malicioso e nada espontâneo que nunca mudava, em nenhum instante!

Foi por esse motivo e por outros que Abinoã decidiu que tinha que bater ainda em alguém. Ele abordou um passante aleatório com gestos amplos e ameaçadores, com braços estendidos, convidando para o mútuo massacre.
O sujeito primeiro achou estranho, mas a insistência de Abinoã terminou por irritá - lo, e ele finalmente decidiu partir pro braço!

Ele afundou o punho na pança inchada de Abinoã e pá! Foram pedaços de carne mal - mastigada e vômito para todos os lados!

O atacante foi coberto de vômito, e ficou de cara! Era a camisa favorita dele! Ele até ia bater mais em Abinoã por conta disso, mas não queria se sujar mais ainda.

Abinoã caiu de joelhos à terra, vomitando sem parar, enquanto olhava com ódio, com a cara terrível de uma vaca zangada para o seu oponente, que lhe deu as costas e foi embora.

Uma pequena multidão curiosa se reuniu em sem - círculo para ver Abinoã em meio de um oceano de gorfo, e ele continuou a vomitar até perder os sentidos, de exaustão causada por vomitar demais.

Epílogo: Percival parecia ter largado de importunar a guria, impressão ou não, e Abinoã criou coragem para seguir cortejando sua amada. Ele falou com ela de curiosidades que ele viu por aí, tipo que mulheres menstruadas sentem mais tesão quando o cara mete nelas, e ele perguntou se ela não queria experimentar. E aí ela excluiu Abinoã em todos os âmbitos da vida e nunca mais falou com ele.

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